segunda-feira, agosto 04, 2014

Crônica: Morre o Shakespeare do Nordeste



Sempre gostei de comentar com meus amigos leitores contumazes que se o Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) tivesse nascido europeu suas peças teatrais seriam comparadas às de Shakespeare e sua obra-prima "O Auto da Compadecida" seria leitura obrigatória em todas as escolas e universidades do mundo, reconhecida como obra de um dos grandes gênios da literatura mundial.

O Auto da Compadecida (1956), peça teatral que o projetou no cenário nacional, é uma síntese da genialidade, criatividade, improvisação, sarcasmo, humor e misticismo característicos à cultura nordestina, notadamente ao teatro de mamulengos, a literatura de cordel, as danças folclóricas e aos desafios ou "pelejas" de violeiros.

Impregnado desses valores iconoclásticos e míticos tão fortemente arraigados na literatura do nordeste, o Auto da compadecida é considerado o texto mais popular do teatro moderno brasileiro e deixa cristalino a principal característica da obra de Ariano: um forte sentimento de regionalismo, de brasilidade de construção e valorização de um identidade cultural nacional legítima, autêntica e conforme as tradições populares.

Ficou gravado na minha memória uma entrevista que assisti de Ariano dando conta que seu amor pela literatura surgiu na infância quando passava o tempo na imensa biblioteca particular de seu pai (João Suassuna, Governador do Estado da Paraíba) deleitando-se com Vitor Hugo, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, José de Alencar e Machado de Assis...Pensei com os meus botões, está tudo explicado....

Ariano Suassuna, paraibano de nascimento, pernambucano de coração, advogado, dramaturgo, romancista, poeta, cronista, professor da Universidade Federal de Pernambuco, Secretário de Cultura de Pernambuco, imortal da Academia Brasileira de Letras, Doutor Honoris Causa da UFRN, defensor incansável de uma identidade nacional, do seu amado sertão nordestino e do nosso sentimento de brasilidade...

Não, não estou de luto, estou em festa por ter sido contemporâneo deste gênio da literatura nacional que passa agora a figurar no panteão onde figuram os nordestinos Gonçalves Dias, José de Alencar, Castro Alves, Aluísio de Azevedo, Artur Azevedo, Rachel de Queiroz, Patativa do Assaré, Manuel Bandeira, Câmara Cascudo, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, entre outros...

Morre Ariano Suassuna, nasce o Shakespeare Brasileiro!


Raimundo Salgado Freire Júnior.




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